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O Guardião Do Umbral


Um Mestre não precisa abençoar duas vezes. É a certeza da existência dos Mestres que me leva a escrever, e esta certeza não veio dos livros, mas da experiência. Faço esta ressalva, pois o tema sobre o qual me debruçarei a seguir é um dos mais árduos no ocultismo.

Iniciemos pelo Guardião Menor do Umbral, seguindo a denominação dada por Rudolf Steiner.

Entre Julho de 1991 e Novembro de 1994, vivi a pior fase desta minha encarnação. Em Novembro de 1994, já estava novamente morando na casa de meus pais e pedi para colocar o interruptor da lâmpada de meu quarto, bem próximo a cama, ao alcance da mão. E assim foi feito. Uma noite sonhei com um Ser, negro, muito alto, usando cartola e algo como uma veste medieval negra. Senti muito medo em sonho e as mãos de meu corpo psíquico, passavam continuamente pelo interruptor, tentando acender a luz. Em um dado momento, acordei, acendi a luz e o Ser estava em minha porta, e a porta continuava lá. Por uns momentos o vi perfeitamente, não como uma névoa, mas algo real, o medo invadindo definitivamente minha alma, até que Ele desapareceu. Acredito ter visto o Guardião Menor do Umbral, o negativo, aquele que necessita ser expurgado, como veremos a seguir.

Para Steiner o Guardião do Umbral é “um ser autônomo”, que “inexiste para o ser humano enquanto este não alcançou o grau adequado de desenvolvimento” e é “na verdade, um ser horripilante e fantasmagórico”, que “se posta diante do discípulo”. Continua Steiner afirmando que o trabalho do discípulo é ter “sua força realmente desenvolvida a ponto de poder encarregar-se, com pleno saber, do embelezamento do guardião” (Capítulo O Guardião do Limiar, O Conhecimento dos Mundos Superiores, Rudolf Steiner).

Do enigmático Zanoni, livro que o próprio Edward Bulwer Lytton alega ser apenas uma espécie de tradutor, continuaremos nossa digressão sobre o Guardião Menor do Umbral.

Mejnour, um Mestre da Rosacruz, em vias de aceitar Glyndon como seu discípulo, o testa, para saber de sua determinação e caráter. E, infelizmente. Glyndon não apenas falha no teste, como invoca o Guardião do Umbral de forma prematura.

“Pouco a pouco, esse objeto toma forma ante a sua visão. Dir-se-ia uma cabeça humana coberta com um véu preto através do qual brilham, com uma claridade lívida e infernal, olhos que o gelam até a medula. Isso é tudo o que ele pode distinguir daquela visão: dois olhos cujo olhar é insustentável” (Capítulo VII, Quarto Livro, Zanoni).

“Com a crispada opressão do terror, Glyndon apóia-se com a mão na parede; os cabelos eriçados, os olhos prestes a saltar das órbitas, ele não pode desviar seu olhar daquele olhar pavoroso” (Capítulo VII, Quarto Livro, Zanoni).

“Pois bem, viste o que aguarda no umbral da ciência; estiveste face a face com o primeiro inimigo que ameaça aquele que ainda geme sob a opressão despótica dos sentidos” – diz em Carta Mejnour a Glyndon – (Capítulo I, Quinto Livro, Zanoni).

“Mas, para tua desgraça, desobediente e profano, atraíste para ti um inimigo hediondo e impiedoso. Só tu mesmo poderás exorcizar o fantasma que provocaste” – alerta Mejnour a Glyndon, na sequência da mesma Carta – (Capitulo I, Quinto Livro, Zanoni).

Voltemo-nos agora, como diz Steiner, ao Guardião Maior do Umbral.

Em 2009 fui protegido de um perigo iminente. Dias após, um Ser maravilhoso se manifestou em sonho, me fez lembrar do ocorrido e disse-me: “Fui Eu que fiz”. Era um Ser de Luz, porém o que se desenhava à minha frente, tinha a aparência de um corpo, com cabeça e braços. Podia ver através dele, algo como uma aura que se estendia através e após seu corpo, como a cauda de um vestido de noiva. Mesmo que fosse pintor, o que não sou, não haveria como retratá-lo. Seria este Ser o Guardião do Umbral?

Para Harvey Spencer Lewis, Primeiro Imperator da Ordem Rosacruz para este ciclo, o Guardião do Umbral é o Eu Interior, ou seja, o Ego da Teosofia e da Fraternidade Rosacruz. Na terminologia da Teosofia é a junção do Manas Superior, de Buddhi e de Atma. Na terminologia de Max Heindel é o Tríplice Espírito; Humano, de Vida e Divino.

Diz o Manual Rosacruz, que não mais foi editado, no verbete Guardião do Umbral: “Nossa Consciência, nosso Eu Interior, a sentinela de nossa mente subconsciente, agindo como nosso guia e protetor”.

Para Steiner, surge diante do Estudante “uma sublime figura luminosa, cuja beleza é difícil de descrever nas palavras de nossa linguagem”. Steiner continua dizendo que “um esplendor indescritível irradia do segundo

Guardião do Limiar” e “a união com ele coloca-se diante da alma vidente qual um alvo longínquo”. E finalmente, a Senda do Serviço é ilustrada, pois “caso se decida por atender às exigências da sublime figura luminosa, ele será capaz de contribuir para a libertação do gênero humano” (Capítulo Vida e Morte, O Conhecimento dos Mundos superiores, Rudolf Steiner).

Antes de concluirmos com um exemplo de Zanoni do Guardião do Umbral, uma explicação se impõe. A Ordem Rosacruz trabalha apenas com a ideia de Corpo Psíquico, enquanto que a Teosofia, a Fraternidade Rosacruz e a Antroposofia, trabalham com a ideia de três corpos perecíveis entre uma encarnação e outra, para explicar as atividades sutis do ser humano, sendo eles o Corpo Etérico, o Corpo Astral e o Corpo Mental.

Embora as denominações difiram entre as escolas, as funções de cada corpo são semelhantes. Assim no momento estamos usando o Corpo Físico como corpo mais denso; posteriormente usaremos o Corpo Etérico, depois o Corpo Astral e daí por diante; ou seja, conforme evoluímos, a natureza sutil ou vibratória de nosso corpo também se eleva. Todos os corpos sutis tem seus chakras, e assim falamos em chakra etérico, chakra astral, chakra mental e daí por diante, pois todos os corpos mais sutis, tem cada qual os seus chakras.

Coloquei este ponto para dizer que a graça e a beleza de um ser evoluem conforme ele passe a usar corpos mais elevados, como o seu corpo mais denso; dessa maneira o Anjo usaria o Corpo Etérico como seu corpo mais denso; o Arcanjo, o Corpo Astral; o Principado, o Corpo Mental; prosseguindo a troca de corpo mais denso conforme evoluímos. Comparando com a terminologia Rosacruz, nosso Corpo Psíquico será futuramente nosso corpo mais denso. Essa é a razão pela qual não posso afirmar que o Ser que me ajudou e que depois vi em sonho, é o meu Guardião Maior do Umbral. Espero ter conseguido explicar.

Feita a explicação, podemos dizer que existem em Zanoni, ao menos dois momentos que podemos colocar como sendo o encontro do Mestre com o Guardião Maior do Umbral. O primeiro se dá no Capítulo IV do Segundo Livro (o Augoeides), e o segundo, aquele que usarei, se dá no Capítulo IX do Quarto Livro (Adonai), livro este que recebeu a denominação específica de “O Guardião do Umbral”.

Finalmente, eis nosso exemplo de Zanoni do Guardião Maior do Umbral.

“Da coluna luminosa sai uma aparição de uma glória indescritível. Seu rosto é o de um homem em todo o frescor da primeira juventude, mas com uma expressão solene de eternidade e de imutável sabedoria; uma Luz semelhante à radiação das estrelas circula em suas veias transparentes; todo o seu corpo é Luz e essa Luz ondula em centelhas móveis pelas ondas de sua resplandecente cabeleira” (Capítulo IX, Quarto Livro, O Guardião do Umbral, Zanoni).

Concluímos dessa maneira nossa pequena exposição, sobre tema tão caro ao universo ocultista.

Bibliografia.

- Manual Rosacruz, Ordem Rosacruz.
- O Conhecimento dos Mundos Superiores, Rudolf Steiner, Antroposofia.
- Zanoni ou A Sabedoria dos Rosacruzes, Edward Bulwer Lytton, 2ª Edição em Língua Portuguesa, Ordem Rosacruz.

Concluído em 27 de Outubro de 2016.


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